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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Chico Buarque - 'Futuros Amantes'


Tenho pensado demasiadas vezes em Chico Buarque nas últimas semanas. Ando com vontade de descobrir toda a obra musical que ainda desconheço daquele que deve ser o mais perfeccionista dos autores de canções na língua portuguesa. Aqui, nenhuma palavra está a mais ou no sítio errado. O mesmo se passa na sua transição para o romance, igualmente notável, como o atesta a excelência do seu anterior romance, 'Budapeste'. Estou ansioso para ler o novo, 'Leite Derramado'.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Pink Mountaintops - 'Atmosphere'


Improvável versão. Irreconhecível ao início, tal a distorção envolvente. O tom soturno desaparece quase por completo, tal o processo de "afogamento" a que é submetido pelas camadas de sónico ruído branco das guitarras. Nos comentários, alguém fala de Velvet Underground. Absoluta razão, já que estamos quase perante um cruzamento inesperado entre 'I'm Waiting for the Man' e o original dos Joy Division. Bizarro será dizer pouco...

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Vivissecção do amor


O termo é, mais do que violento, cruel. Como de crueldade é feito o filme de Sam Mendes, arrisco-me a considerá-lo mesmo o mais conseguido da sua obra. Leonardo DiCaprio e Kate Winslet recriam o mítico par de 'Titanic', 11 anos depois do épico de James Cameron. E a escolha é tudo menos inocente, já que 'Revolutionary Road' mostra a autópsia de um casal. Com o "pequeno" pormenor de os dois elementos dos Wheeler estarem ainda vivos, apesar de aquilo que os uniu em primeiro lugar ter entretanto iniciado um inevitável processo de decomposição.
Do amor "maior que a vida" de April (Winslet) e Frank (DiCaprio) ficou um par de filhos (quase sempre ausentes para sublinhar que a sua existência é um mero acidente de percurso) e o sadismo psicológico que devotam um ao outro, trocando constantemente de papéis entre predador e presa. É isso que, a espaços, torna sinistro o filme de Mendes. O olhar vago, vazio, de April gela o espectador, como o faz o comportamento errático de Frank, aparentemente decidido a não se deixar aprisionar, quando, no entanto, há muito ficou inapelavelmente cativo na teia.
A quimera de reconstruir uma felicidade há muito utópica acaba por esbarrar no desencanto mútuo. Em 'Titanic' destinados a ficar juntos para além da morte, 'Revolutionary Road' mostra o que sucedeu ao amor imberbe e ingénuo do casal. Apodreceu e corroeu-os por dentro, até só restar crueldade - como tantas vezes sucede e raramente se assume.
Winslet ser na realidade mulher de Mendes, a piscadela de olho a 'Titanic' (a palma da mão no vidro na cena do carro) ou a verdade estar perceptível apenas nas palavras do louco declarado (excelente Michael Shannon) reforçam somente o tom de conto de amor perverso. A fantasia ficou no filme de Cameron. Aqui, o amor do casal foi colocado à prova pela vida quotidiana.
Resta a conclusão que as histórias românticas estão longe de ser perfeitas. Ou, quando o são, acabam na memória de DiCaprio a afogar-se lentamente. Talvez tivesse ficado melhor assim. Rose e Jack cresceram e tornaram-se April e Frank. E isso nada tem de agradável.

domingo, 25 de janeiro de 2009

A morte da música como a conhecemos?

A Micro$oft criou um programa que permite a qualquer utilizador fazer "canções" a partir da gravação da sua voz. Adicionando efeitos de vários estilos (R&B, jazz, pop...) que dão ao conjunto um tom supostamente musical, o Songsmith pode ser o futuro. Ou, em última análise, a morte da música como um acto criativo, tal como a conhecemos hoje. Talvez fosse melhor aquilo que ainda resta da opulenta indústria musical começar a preocupar-se com mais este adversário. Afinal, é grande e, pela amostra, nem sequer gosta de música. Mas isso é algo em comum com os executivos das grandes editoras. O mais certo é entenderem-se e dividirem o bolo. Os artistas, tal como o mexilhão, serão mais uma vez os sacrificados.

M. Ward - 'Hold Time'


M. Ward, de novo sem Zooey Deschanel (apesar de a cantora-actriz ser uma das convidadas de 'Hold Time', o novo álbum). Este tema-título encontra-o bem menos festivo que há um ano, nos She & Him. A canção, essa, tem a marca de água do seu autor. Melancólica e belíssima, a respirar sentimento por todo o lado. Recordações de palavras que não foram ditas e, quem sabe, talvez alguém as tenha mesmo assim escutado. O preto-e-branco combina na perfeição com o agridoce da letra.
Haja alguém se lembre de o trazer cá para concertos...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Morrissey - 'That's How People Grow Up'


Moz é Moz. E ponto final. É verdade que já fez fracos álbuns e deu em Lisboa um dos piores concertos que vi até hoje - como depois da "redenção" em Paredes de Coura seria impossível não o desculpar por uma época menos conseguida. Mas há figuras a quem quase tudo se perdoa. O desamor, o sarcasmo e o humor corrosivo e certeiro estão como nos dias dos The Smiths, provavelmente até mais maturados com o tempo. 'Years of Refusal' é irónico até na capa e solta veneno para muitos lados. 'That's How People Grow Up' é um dos temas nele incluídos e mostra Morrissey na continuação do seu bom momento de forma, iniciado em 'You Are the Quarry' e continuado em 'Ringleader of the Tormentors'. Ou como o Paraíso lhe continua a dizer alto e em bom som que "sabe o quanto ele se sente miserável".

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Steve Reich - 'Different Trains: America - Before The War'


Editada há precisamente 20 anos, 'Different Trains' é uma obra que hoje já pode justificar a classificação de intemporal. A autoria pertence ao compositor minimalista norte-americano Steve Reich e foi gravada pelo Kronos Quartet, ao qual se juntaram gravações prévias com depoimentos e sons de comboios (à época o sampler era um sonho). Esta espécie de sinfonia contemporânea esboça um paralelismo entre as viagens de comboio feitas por Reich em criança (os pais estavam divorciados e ele viveu entre Chicago, New York e Los Angeles) e o mesmo meio de transporte utilizado pelos nazis, na Europa, para levarem os judeus (tal como o compositor) para os campos de concentração. Dividido em três movimentos ('America - Before the War', 'Europe - During the War' e 'After the War'), trata-se de uma reflexão sobre a vida e a morte e a forma como o simples local de nascimento traça o destino de uma pessoa - os depoimentos no segundo movimento pertencem mesmo a sobreviventes dos "comboios da morte".
O vídeo que acompanha este primeiro andamento de 'Different Trains' pertence a Frank CW e traça uma curiosa relação entre o realismo da música e a abstracção das imagens. Nada de novo, pois o trabalho de Reich já foi alvo de remisturas de cariz electrónico por diversas vezes. No meu caso pessoal, posso afirmar que 'Different Trains' mudou a minha percepção sobre a música, desde a primeira vez que a escutei, em 1991, interpretada ao vivo pelo Kronos Quartet, no lisboeta Tivoli.