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domingo, 25 de janeiro de 2009

A morte da música como a conhecemos?

A Micro$oft criou um programa que permite a qualquer utilizador fazer "canções" a partir da gravação da sua voz. Adicionando efeitos de vários estilos (R&B, jazz, pop...) que dão ao conjunto um tom supostamente musical, o Songsmith pode ser o futuro. Ou, em última análise, a morte da música como um acto criativo, tal como a conhecemos hoje. Talvez fosse melhor aquilo que ainda resta da opulenta indústria musical começar a preocupar-se com mais este adversário. Afinal, é grande e, pela amostra, nem sequer gosta de música. Mas isso é algo em comum com os executivos das grandes editoras. O mais certo é entenderem-se e dividirem o bolo. Os artistas, tal como o mexilhão, serão mais uma vez os sacrificados.

M. Ward - 'Hold Time'


M. Ward, de novo sem Zooey Deschanel (apesar de a cantora-actriz ser uma das convidadas de 'Hold Time', o novo álbum). Este tema-título encontra-o bem menos festivo que há um ano, nos She & Him. A canção, essa, tem a marca de água do seu autor. Melancólica e belíssima, a respirar sentimento por todo o lado. Recordações de palavras que não foram ditas e, quem sabe, talvez alguém as tenha mesmo assim escutado. O preto-e-branco combina na perfeição com o agridoce da letra.
Haja alguém se lembre de o trazer cá para concertos...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Morrissey - 'That's How People Grow Up'


Moz é Moz. E ponto final. É verdade que já fez fracos álbuns e deu em Lisboa um dos piores concertos que vi até hoje - como depois da "redenção" em Paredes de Coura seria impossível não o desculpar por uma época menos conseguida. Mas há figuras a quem quase tudo se perdoa. O desamor, o sarcasmo e o humor corrosivo e certeiro estão como nos dias dos The Smiths, provavelmente até mais maturados com o tempo. 'Years of Refusal' é irónico até na capa e solta veneno para muitos lados. 'That's How People Grow Up' é um dos temas nele incluídos e mostra Morrissey na continuação do seu bom momento de forma, iniciado em 'You Are the Quarry' e continuado em 'Ringleader of the Tormentors'. Ou como o Paraíso lhe continua a dizer alto e em bom som que "sabe o quanto ele se sente miserável".

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Steve Reich - 'Different Trains: America - Before The War'


Editada há precisamente 20 anos, 'Different Trains' é uma obra que hoje já pode justificar a classificação de intemporal. A autoria pertence ao compositor minimalista norte-americano Steve Reich e foi gravada pelo Kronos Quartet, ao qual se juntaram gravações prévias com depoimentos e sons de comboios (à época o sampler era um sonho). Esta espécie de sinfonia contemporânea esboça um paralelismo entre as viagens de comboio feitas por Reich em criança (os pais estavam divorciados e ele viveu entre Chicago, New York e Los Angeles) e o mesmo meio de transporte utilizado pelos nazis, na Europa, para levarem os judeus (tal como o compositor) para os campos de concentração. Dividido em três movimentos ('America - Before the War', 'Europe - During the War' e 'After the War'), trata-se de uma reflexão sobre a vida e a morte e a forma como o simples local de nascimento traça o destino de uma pessoa - os depoimentos no segundo movimento pertencem mesmo a sobreviventes dos "comboios da morte".
O vídeo que acompanha este primeiro andamento de 'Different Trains' pertence a Frank CW e traça uma curiosa relação entre o realismo da música e a abstracção das imagens. Nada de novo, pois o trabalho de Reich já foi alvo de remisturas de cariz electrónico por diversas vezes. No meu caso pessoal, posso afirmar que 'Different Trains' mudou a minha percepção sobre a música, desde a primeira vez que a escutei, em 1991, interpretada ao vivo pelo Kronos Quartet, no lisboeta Tivoli.