A ouvir

toniofeio's Profile Page

sábado, 5 de julho de 2008

A armadilha da inutilidade


Michael Haneke não resistiu ao "canto de sereia" de Hollywood e fez um remake plano-a-plano daquele que será, porventura, o seu filme mais emblemático, 'Funny Games' (1997). E aquilo que apetece dizer é que em má hora o fez. O realizador alemão queixa-se que boa parte da mensagem a reter dos seus filmes é direccionada para um público, o norte-americano, que não a recebe, já que não vê cinema em outro idioma que não o inglês.
Como tal, Haneke fez a vontade a esta "massa imensa" e chamou nomes bem conhecidos, como Naomi Watts, Tim Roth e Michael Pitt, para protagonizarem o novo-velho-filme. O resultado é competente mas inútil. De tal forma que acaba por cair na armadilha que sugere - mas sabendo que o cineasta alemão é provocatório por excelência, talvez a sua intenção fosse mesmo essa.
'Funny Games' (o original) era uma obra sobre a banalização da violência, culpabilizando os media por grande parte desta, e procurando estabelecer uma ponte com o espectador, de modo a chocá-lo e mesmo a agredi-lo violentamente no plano psicológico. A ideia era criar uma identificação com a família-vítima, de modo a que a audiência entrasse na pele desta - como, de certa forma, Gaspar Noé também consegue, em 'Irréversible'.
A um visionamento inicial, as intenções de Haneke cumpriam-se. 'Funny Games' (o original) resultava perturbador.
'Funny Games US' só perturba quem não conheça o original. A quem tenha visto ambos, provavelmente só provoca um longo bocejo e o sucessivo questionamento dos méritos do pioneiro. No meio de tanta indulgência e auto-vaidade, o realizador alemão cai na sua própria armadilha, o banalizar daquilo que havia conseguido antes. A violência é gratuita e tão ou mais banal que aquela que pretende criticar, colocando-nos perante um filme absolutamente inútil. E que, nesta matéria, até consegue bater aos pontos o 'Psycho' de Gus Van Sant. No naufrágio, salva-se apenas a intepretação de Michael Pitt, conseguindo com uma mistura de simpatia e inexpressividade absoluta encarnar a face do próprio Mal.

Sem comentários: